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Andy Warhol na Estação Pinacoteca

por ornitorrincoquantico, em 27.03.10

 

 

Se você gostou de conhecer um pouco sobre Andy Warhol ano passado com os posts em que analisei alguns de seus quadros, não pode perder a oportunidade de ver de perto as obras desse importante pintor do Pop Art.

 

 

Andy Warhol, Mr. America
A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta, na Estação Pinacoteca, exposição de Andy Warhol, um dos mais importantes e influentes nomes da Pop Art. Andy Warhol, Mr. America
De 20 de março a 23 de maio de 2010

 

De terça a domingo, das 10 às 18h Ingresso combinado (Pinacoteca + Estação Pinacoteca): R$ 6 ou 3,00. Grátis aos sábados.


Largo General Osório, 66 – fone 11 3337.0185

 

Aproveitem!!! =)

 

 

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publicado às 01:10

Kandinsky - Análise de imagens (Parte 2 de 3)

por ornitorrincoquantico, em 28.09.09

 

Observem atentamente a pintura acima e pensem: o que ela nos lembra?

 

Riscos sem muita forma, figuras humanas estilizadas, mistura de várias cores com pinceladas não muito precisas... não lembra um desenho infantil?

 

Pois é, não só lembra como é um dos principais motivos que levou Kandinsky a realizar estudos sobre o abstracionismo e a desenvolver essa nova forma de arte. Kandinsky queria descobrir como é que nascia a consciência estética no ser humano e o porque ela desaparecia com o tempo.

 

 

Vejamos o que diz Argan, em seu livro “Arte Moderna”, sobre a pintura de Kandinsky:

 

“Em 1910, Kandinsky estava com quarenta anos e contava com um belo passado de pintor figurativo. De repente, esquece o ‘ofício’ e começa a rabiscar como uma criança de três anos que ganhou papel, lápis e tintas [...] Kandinsky se propôs reproduzir experimentalmente o primeiro contato do ser humano com um mundo do qual não se sabe nada, nem sequer se é habitável [...]. Essa primeira experiência da realidade é denominada pelos psicólogos como estética: uma experiência a que corresponde um tipo de comportamento. A criança, sem dúvida, percebe, recebe sensações do mundo exterior; mas a percepção não se define como noção, traduz-se num conjunto de movimentos instintivos, com os quais a criança pega o que a atrai, afasta o que a atemoriza. Se dispõe dos instrumentos necessários, transforma esses gestos em signos, que por sua vez são percebidos; e, como o mundo existe para ela enquanto ela o percebe, ao fazer algo que se percebe, está afirmando sua vontade de fazer a realidade, de existir. Kandinsky [...] se propõe [a] analisar, no comportamento da criança, a origem, a estrutura primária da operação estética. Com efeito, todos sabem que o comportamento estético cessa quando a criança, ao crescer, aprende a ‘raciocinar’: a primeira experiência do mundo, isto é, a experiência estética, é esquecida, transferida para o inconsciente. Apenas poucos indivíduos – os artistas – desenvolvem-na, ligam-na a certas técnicas organizadas, dela extraem objetos a que a sociedade atribui certo valor”.

 

É preciso buscar a criança que existe dentro da gente para entrar no mundo das obras de Kandinsky.

 

Vamos tentar descrever o que vemos na imagem.

 

Apesar de não-figurativa, percebemos formas que lembram figuras conhecidas. Os riscos do lado direito lembram 4 pessoas, duas mais próximas e as outras mais distantes. Há 2 riscos pretos cortando a tela o que nos faz lembrar uma estrada, porque ao lado desses riscos observamos 3 manchas vermelhas que nos lembram casas. Ao perceber essas estradas, vemos que as duas pessoas da direita estão caminhando por elas. À esquerda também vemos algo que lembra tanto uma outra estrada como um rio, formada com riscos pretos, azuis e violácios, com várias ondulações. Pela sua cor azul e pelas outras manchas azuis podemos dizer que representam mesmo as águas de um rio. E reparem que todos os outros riscos pretos também nos lembram estradas e caminhos. Há inclusive um arco-íris à esquerda. A parte superior à direita está pintada de azul e com uma grande mancha colorida de laranja, violeta e amarela, o que nos lembra um sol no céu.

 

Enfim, todos os elementos nos levam a crer que essa pintura nos leva recordar a imagem de uma paisagem de campo, numa tarde ensolarada. Mas só conseguimos ter essa percepção se olharmos para a imagem com um olhar infantil, como se ela tivesse sido pintada por uma criança, aí a paisagem parece ficar clara para nós. Quanto mais tempo olhamos para o quadro, mais a gente recorda nossa forma de ver o mundo escondida em nosso insconsciente e que nos acompanhava durante a infância.

 

Viu só como a arte abstrata mexe com os nossos sentimentos e sensações? Com certeza a minha percepção é diferente da sua e é isso que deixa a arte abstrata tão interessante. Comece a observar outros quadros abstratos, busque a sua visão infantil escondida em você e se entregue a essa forma de arte fascinante.

 

E porque não experimentar também? Peque tinta, lápis, lápis de cor e papel e tente também criar formas e cores que estão escondidas em você. Não procure por sentido, procure expressar o que sente e o que as formas e cores despertam em você. Com certeza será uma atividade interessante e o ajudará a entender melhor a arte abstrata.

 

Na próxima análise, mais um quadro e mais uma característica de Kandinsky: a música cromática.

 

Até lá!

 

Referência:

 

ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

 

 

Não viu a análise anterior? Clica no link abaixo que eu te levo lá:

Kandinsky Parte 1

 

PS: Peço mil desculpas aos leitores do meu blog pelo atraso na publicação desse post. Estou envolvido na realização de diversas atividades, como a conclusão do meu TCC, estudos para tentar entrar no mestrado e atividades de docência, o que tem consumido muito o meu tempo. Consegui agora escrever mais um pouco sobre Kandinsky mas não vou prometer uma data para o último post dele. Continuem acompanhando que assim que concluir aviso. Semanalmente publicarei algum texto de minha autoria para que o blog não fique parado. E se quiserem também podem acompanhar meu outro blog "A retórica do dragão-de-komodo", lá eu falo de tudo um pouco e está sempre atualizado com alguma reflexão minha. Obrigado e boa leitura!

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publicado às 19:04

Kandinsky - Análise de imagens (Parte 1 de 3)

por ornitorrincoquantico, em 20.07.09

E o artista escolhido para o mês de julho é:


Wassily Kandinsky

 

 

 

Kandinsky é conhecido como o pai do abstracionismo e analisar seus quadros nos permitirá entender um pouco o que é essa tal de arte abstrata.

 

Primeiro vamos conhecer um pouco da vida de Kandinsky e o que ele representa para a História da Arte. Depois tentaremos entender o que é uma pintura abstrata para finalmente mergulharmos nos quadros desse pintor.

 

De acordo com o site Infoescola,

 

"Wassily Kandinsky, o pioneiro do abstracionismo nas Artes Plásticas, nasceu na cidade de Moscou, em 16 de dezembro de 1866. Filho de pais divorciados, ele foi educado pela tia, optando a princípio pela música, que posteriormente refletirá em seu trabalho como pintor, pois ela lhe confere noções essenciais de harmonia e evolução. Kandinsky seguiu inicialmente as trilhas acadêmicas, formou-se em Direito e Economia na Universidade de Moscou, mas logo depois desistiu desta profissão, encontrando finalmente seu destino nas veredas das artes visuais, ao se apaixonar por uma tela de Monet.

O artista começou a estudar pintura em Munique - nesta época considerada como um centro artístico -, na escola de Anton Ažbè, mas Kandinsky desencantou-se com esta prática artística, pois tinha uma predileção especial por paisagens. Suas primeiras obras refletiam um toque musical e expressavam também temas do folclore russo. Nesse período, Kandinsky conheceu o pintor Paul Klee, dando início a uma grande amizade. No ateliê do Professor Von Stuck ele permanece até 1900; um ano depois o artista funda a Phalanx (Falange), um grupo de artistas, entre eles Stern, Hüsgen, Hecker e Klee. Pouco tempo depois esta associação encerra suas atividades por carência de alunos, mas suas sementes frutificam posteriormente com o nascimento da Nova Associação dos Artistas de Munique (NKVM). Nesta mesma ocasião, Kandinsky inova ao pintar sobre vidro, técnica inspirada na cultura da Bavária.

 

Na etapa ainda figurativa do artista, a tela "O Cavaleiro Azul (1903)" reproduz um personagem dos contos de fadas, imagem muito comum na infância de Kandinsky, simbolizando o combate entre o bem e o mal, luta e transformação. Este tema se repete nesta fase do pintor. Em 1908, retorna a Munique, onde edita o ensaio "Do Espiritual na Arte", em 1911, no qual apresenta a arte como expressão de um imperativo interior. Nesta década, o pintor realiza os primeiros trabalhos não figurativos, tornando-se assim o primeiro artista no Ocidente a criar uma pintura abstrata. Ele libera as artes plásticas das cadeias convencionais a que elas se prendiam. Com sua atitude inovadora, influencia profundamente não só esta esfera, mas vários outros setores artísticos".

 

Até esse momento, a pintura buscava essencialmente representar o "Real". Paisagens, pessoas, animais, objetos... enfim, tudo o que "existia" no nosso mundo e que podia ser visualizado era representado nos quadros. Com o tempo, foi-se modificando aos poucos a forma de se pintar, o modo de usar as tintas e dar as pinceladas, mas ainda assim o tema dos quadros sempre nasciam do mundo visível. Em Arcimboldo, artista analisado mês passado, por exemplo, até existe uma originalidade na forma de compor seus quadros, mas ainda assim ele busca representar a realidade e o que existe no mundo.

 

Aumont, em seu livro "A imagem", nos conta que a pintura foi uma das artes que mais demorou a se desvincular do que era considerado mundo real. A música, por exemplo, se libertou muito tempo antes. O homem sempre teve certa dificuldade em abstrair, em criar coisas e ideias novas e que não condizem com a realidade.

 

Mas a arte chegou finalmente em um momento em que ela se perguntou: por que não podemos manipular as cores, formas e linhas da nossa maneira, criando formas e figuras novas? Esse questionamento surgiu por causa do surgimento da fotografia e cinema, pois eles assumiram a função de "representar o real" (claro que estou sendo simplista, mas no início essa foi a principal forma de encarar o cinema e a fotografia). Então a pintura viu que precisava ir além, percorrer caminhos novos e encarar uma certa liberdade nunca experimentada antes. Aí nasceu a Arte Abstrata.

 

Mas a liberdade assusta. Já não era mais preciso seguir tantas regras e isso provocou um choque muito grande na Arte, como nos conta Gombrich em "A história da arte". A arte abstrata juntamente com outras tendências surgidas no início do século XX marcaram o início do que veio a ser chamado de Arte Moderna. Nesse momento, surge um rompimento na forma forma de se pensar a pintura. Antes, o artista era quem ditava as regras e significados de sua obra, ele pensava em um tema, criava a composição e a divulgava, enquanto os seus leitores tinham uma atitude passiva, onde buscavam entender "o que o artista quis dizer com seu quadro". Com a Arte Moderna, e, em especial o abstracionismo, isso modificou completamente. O artista até poderia ter um tema, mas as responsabilidade de dar significação a sua obra passou a ser do seu leitor. Assim, cada quadro poderia despertar impressões diferentes dependendo de quem a observasse. O leitor passou a ter uma atitude ativa. Ou pelo menos deveria, porque até hoje isso não foi bem assimilado pelas pessoas em geral.

 

Ainda somos acostumados a olhar uma imagem buscando alguma referência com o que consideramos Real. Por isso, a arte moderna é ainda muito mal vista e mal assimilada pelas pessoas em geral, porque se você encara um quadro abstrato, por exemplo, sem ter a noção da importância de ter uma postura ativa e de se colocar na pintura, buscando assim a significação, você perde todo o encanto que ela busca despertar. E fica perdido.

 

Para ler um quadro abstrato é preciso analisar com muito cuidado e atenção tudo o que está representado. São formas retas ou curvas? Cores escuras ou claras? Excesso de elementos em um lado ou tudo está bem distribuído? Tem um nome ou não? Enfim, qualquer detalhe, por menor que seja, é importe para costurarmos a narrativa que essa pintura quer despertar em nós. E na maioria das vezes ela está fundada em sentimentos e oposições básicas do ser humano, como o amor e ódio, guerra e paz, etc.

 

Finalmente a arte aprendera a representar o mundo subjetivo do homem, seus sentimentos, sensações e desejos.

 

E é essa a matéria prima básica que Kandinsky utiliza em seus quadros. Deixarei essa pequena amostra do trabalho dele para você tentar ler. Observe com cuidado esses quadros e tente construir em você o significado deles. Não fique aflito, no começo é difícil mesmo. Fica como um exercício, para que na próxima semana continuemos esmiuçando com mais cuidado um dos quadros desse criativo pintor abstrato.

 

 

 

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publicado às 17:52

Arcimboldo (Parte 2 de 2 - Análise de Imagens)

por ornitorrincoquantico, em 28.06.09

E a obra de Arcimboldo para análise é "O bibliotecário" (1566):

 

 

Arcimboldo realiza um trabalho semelhante ao quadro de Rodolfo (confira a parte 1) e cria uma ilusão utilizando dessa vez elementos que são encontrados em uma biblioteca: livros, marcadores, espanador de pó, óculos e cortina, formando a imagem de um homem, um bibliotecário da época.

 

Assim, Arcimboldo utiliza elementos que ele acredita representar a essência do retratado. No caso de Rodolfo, os alimentos representam a ilusão do poder. E em "O bibliotecário"?

 

A representação do bibliotecário é formada por livros organizados e bem cuidados (eles não são sujos e não possuem estragos). Uma cortina encobre parte do que seria o ombro, representando uma capa e também mostrando que os livros, com o bibliotecário, estão protegidos e bem conservados.

 

Mas assim como no quadro de Rodolfo, não há nada que nos garanta que exista segurança. Um esbarrão e toda a pilha de livros pode desabar. Assim é o homem, vive sua vida na ilusão de uma segurança, mas que é efêmera. Hoje está limpo, mas amanhã poderá estar empoeirado.

 

Há também um livro aberto representando um chapéu ou peruca. A mente do bibliotecário estaria assim, aberta ao conhecimento, pronta para ser consultada. A forma como o bibliotecário é representado mostra também que a profissão era respeitada e bem vista, afinal só por ser tema de uma pintura nessa época já era um sinônimo de status.

 

Essas ilusões também estão presentes em diversas outras obras do artista, olhe só:

 

The Four Seasons in One Head

 

O ar

 

A terra

 

O inverno

 

Muitas pessoas ao tomarem contato à primeira vez com o trabalho de Arcimboldo o classificam erroneamente como surrealista. Na verdade, seu trabalho hoje está inserido na escola artística do Maneirismo.

 

De acordo com o site Histórianet, "o maneirismo tem características variadas, difícil de reuni-las e um único conceito.
O termo Maneirismo foi utilizado por Giorgio Vasari para se referir a "maneira" de cada artista trabalhar. Uma evidente tendência para a estilização exagerada e um capricho nos detalhes começam a ser sua marca, extrapolando assim as rígidas linhas dos cânones clássicos.
Muitos críticos consideram que o maneirismo representa a oposição ao classicismo e ao mesmo tempo, manteve-se como tendência artística até o desenvolvimento do Barroco, que marcaria a nova visão artística da Igreja Católica, após o movimento de contra reforma Alguns historiadores o consideram uma transição entre o renascimento e o barroco, enquanto outros preferem vê-lo como um estilo propriamente dito.
Os artistas passam a criar uma arte caracterizada pela deformação das figuras e pela criação de figuras abstratas, onde não havia relação direta entre o tamanho da figura e sua importância na obra (...) Rostos melancólicos e misteriosos surgem entre as vestes, de um drapeado minucioso e cores brilhantes. A luz se detém sobre objetos e figuras, produzindo sombras inadmissíveis. Os verdadeiros protagonistas do quadro já não se posicionam no centro da perspectiva, mas em algum ponto da arquitetura, onde o olho atento deve, não sem certa dificuldade, encontrá-lo. No entanto, a integração do conjunto é perfeita.

E é assim que, em sua última fase, a pintura maneirista, que começou como a expressão de uma crise artística e religiosa, chega a seu verdadeiro apogeu, pelas mãos dos grandes gênios da pintura veneziana do século XVI. A obra de El Greco merece destaque, já que, partindo de certos princípios maneiristas, ele acaba desenvolvendo um dos caminhos mais pessoais e únicos, que o transformam num curioso precursor da arte moderna"

 

Os principais pintores maneiristas foram: Domenico Beccafumi, Francesco Salviati, Giorgio Vasari, Giuseppe Arcimboldo, Marten de Vos, Cornelis van Haarlem e El Greco.

 

Futuramente, ao analisarmos algum pintor barroco, perceberemos algumas semelhanças entre o estilo de Arcimboldo e o barroco.

 

Espero que tenham gostado desse pintor. Existem diversas imagens dele na internet, procurem e tentem conhecer um pouco mais desse artista que passou muitos anos esquecido pela história da arte e só muito recentemente foi "redescoberto".

 

Mês que vem tem mais. Até lá.

 

Para ler os artigos já publicados:

 

Arcimboldo (Parte 1 de 2 - Análise de Imagens)

Andy Warhol - Parte 1

Andy Warhol - Parte 2

Andy Warhol - Parte 3
Vamos aprender a ler a Arte?

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publicado às 01:29

Arcimboldo (Parte 1 de 2 - Análise de Imagens)

por ornitorrincoquantico, em 21.06.09

O artista selecionado para análise esse mês é Arcimboldo.

 

 

Arcimboldo foi um pintor italiano, nascido em Milão em 1527 e falecido em 1593. De acordo com o site Casthalia, "Arcimboldo trabalhou inicialmente com seu pai, no vitral da catedral de Milão. A partir de 1562 morou em Praga, então capital do reino da Boêmia e hoje da República Tcheca, onde consolidou sua carreira como artista. Serviu na corte de Fernando I e de seus sucessores, Maximiliano II e seu filho Rodolfo II, grandes mecenas. Arcimboldo foi admirado como artista pelos três monarcas, tornou-se pintor da corte e chegou a ser nomeado Conde Palatino. Praga transformou-se no século XVI, principalmente por causa de Rodolfo II, em um dos maiores centros culturais da Europa, de intensa e diversa atividade cultural e científica. Seus governantes eram vistos, além de seus domínios, como simpatizantes do exótico. Nesse contexto, as singularidades da arte de Arcimboldo encontraram solo fértil para florescer".

 

O quadro selecionado para primeira análise é "Rodolfo II pintado como Vertumno, deus romano das estações" de 1590. Vamos ler com calma, procurando perceber cada detalhe da obra. Quanto mais tempo você se dedicar, mais coisas irá perceber.

 

 

Então, o que achou? Já conhecia?

 

A primeira coisa que percebemos nesse quadro é que existe um jogo entre duas possibilidades de sentidos. Em um primeiro momento percebemos que é um retrato de alguém, o tal Rodolfo II. Mas logo vemos que não é uma representação convencional, a imagem de Rodolfo II se forma a partir de um amontoado de legumes, frutas, verduras e flores.

 

A primeira coisa a saber é tentar descobrir quem foi Rodolfo II.

 

 

Rodolfo II foi imperador do Sacro Império Romano Germânico. De acordo com a Wikipedia, ele nasceu em Viena em 1552 e faleceu em Praga, no ano de 1612. "Adotou o calendário gregoriano em 1583. Não conseguiu manter a coesão de seus Estados. Instalou a capital em Praga, atraindo a simpatia dos checos e a hostilidade dos alemães. Haverá revoltas na Áustria 1595-7 e dos húngaros. A partir de 1597 sua saúde declinou e, trancando-se no castelo chamado Hradcany, apaixonou-se pelas ciências e belas artes e se tornou protetor de Tycho Brahé, Kepler, um grande mecenas de seu tempo. Seus irmãos se apoderam do poder. O Arquiduque Matias, vencedor dos turcos, tratou diretamente com eles e obrigou Rodolfo a lhe ceder a Áustria, a Morávia e a Hungria em 1608. O Imperador conseguiu conservar a Boêmia e a Silésia, dando aos súditos protestantes uma carta (lettre de majesté) em 9 de julho de 1609, que lhes concedia, com certas restrições, liberdade de consciência e de culto [...] Rodolfo II foi um dos mais excêntrico monarcas europeus de todos os tempos. Rodolfo colecionava anões e possuia um regimento de gigantes em seu exército. Ele era rodeado por astrólogos e fascinado por jogos, códigos e música. Rodolfo fazia parte dos nobres de seu período orientados pelas ciências ocultas. Patrono da alquimia, financiou a impressão de literatura alquimista".

 

O mais importante a saber sobre Rodolfo II é que ele foi um grande mecenas de Arcimboldo, bem como Maximiliano II, anterior a Rodolfo. Eles patrocinavam o trabalho de Arcimboldo, porque ambos possuiam gostos e atividades em comum, como o ocultismo. Havia na época em que eles viveram um lugar em Praga chamado Câmara de Arte e Prodígios, que era um núcleo do museu de Praga. De acordo com o site Casthalia: "A Câmara reunia os mais diversos objetos estranhos, registros de pessoas com anomalias físicas (desde anões até gigantes), animais, frutas, legumes de diversas espécies, provindos de todos os continentes. Ali Arcimboldo teve condições de fazer estudos para suas obras, observar o pormenor de cada elemento representado, representando-os em seus mais ricos e finos detalhes".

 

E foi trabalhando nessa câmara e com o apoio dos mecenas que Arcimboldo encontrou a matéria-prima principal para os seus trabalhos. Ele começou a pintar quadros que criavam verdadeiras ilusões óticas, formando imagens a partir da união de outras.

 

Ilusão. Uma das principais oposições que encontramos em seus quadros é essa, a ilusão vs. a realidade.

 

Voltemos ao quadro de Rodolfo II para entender isso. Rodolfo, como vimos, foi um homem muito importante e poderoso do seu tempo. Todos os quadros que representavam grandes homens naquela época e durante muitos anos depois, sempre procuravam valorizar as figuras representadas, mostrando poder, luxo e imponência. E era isso que se esperava de um pintor quando ele recebia uma encomenda de alguém importante. Afinal, naquela época, um quadro era muito caro para ser realizado, era preciso uma fortuna muito grande para alguém bancar o preço das tintas. Se os retratos não saíssem ao gosto dos retratados o pintor correria risco de morte.

 

E como Arcimboldo retratou Rodolfo? Como um amontoado de frutas e verduras, algo não muito convencional, mas que foi muito bem recebido pelo retratado, porque ele admirava o trabalho de Arcimboldo na câmara e era um entusiasta de tudo o que não era convencional, como vocês puderam perceber nas citações acima.

 

Elencar todos os elementos que Arcimboldo utilizou na composição deixaria esse artigo enorme, por isso deixo essa missão a você, leitor. O importante é saber que todas as frutas, verduras e legumes utilizados na composição são frescos, possuem uma boa aparência e parecem suculentos. Não há nada que pareça estragado ou podre.

 

Assim, o homem representado é tão vivo e de boa aparência quanto os alimentos. E todos nós precisamos nos alimentar, é condição vital para a vida. Isso mostra que o poder do imperador também é importante para manter a vida de seu povo. Seu povo precisa dele bem como eles precisam de alimentos frescos e saudáveis para se alimentar. E ele não seria um mal imperador, porque ele teria qualidade e saúde, assim como os alimentos representados.

 

Porém, tudo o que é saudável e de boa aparência um dia sempre estraga e apodrece. No quadro tanto os alimentos quanto o imperador aparentam uma boa imagem, mas no futuro definitivamente isso irá acabar. Os legumes e verduras irão estragar, as frutas amargarão e as flores e folhas secarão. Bem como o poder de Rodolfo um dia também acabará, sem falar na morte, que é sempre uma certeza na vida do homem.

 

Se olharmos melhor ao quadro novamente percebemos que existe ainda uma outra fragilidade, todos os alimentos estão amontoados, não há nada que nos garanta que eles estejam firmes e fixos. Ou seja, qualquer esbarrão, chute ou vento pode desabar com tudo. O poder pode aparentar luxo e força, mas na verdade é fraco e pode ser vencido por outras forças. A força vs fragilidade é, assim, uma outra oposição importante do quadro.

 

Espero que tenham gostado dessa análise. Ainda haverá uma segunda parte, onde analisaremos um outro quadro de Arcimboldo e vamos tentar entender em que escola artística se encontra o trabalho dele.

 

Até lá! E continue a ler imagens, é sempre bom para a nossa formação e vida!!!

 

PS: Quem é Vertumno, o deus do título do quadro? Descobri recentemente:

 

"Divindade romana, de origem etrusca, que presidia a fecundidade da terra, a germinação das plantas, a floração e o amadurecimento dos frutos. Apaixonou-se pela ninfa Pomona. Esta, porém, dedicava-se exclusivamente ao cuidado dos pomares e jardins, recusando a corte de seus numerosos pretendentes. Para conquistá-la, Vertumno apresentou-se a ela sob vários disfarces. Assim, transformou-se sucessivamente em lavrador, ceifeiro e vinhateiro, porém não conseguiu realizar seu intento. Por fim, metamorfoseou-se em velha e captou a confiança da amada. Falou-lhe, então, do afeto que lhe dedicava Vertumno. Ao perceber a comoção da ninfa, mostrou-se a ela sob a forma de um belo jovem, conquistando-a finalmente. As sucessivas transformações de Vertumno representam a mudança ocorrida na natureza ao longo do ano: primavera, verão, outono e inverno. O deus é representado sob os traços de um belo jovem coroado de ervas, portando na mão esquerda algumas frutas e na direita uma cornucópia".

Fonte: "Dicionário de Mitologia Greco-Romana", Abril Cultural, São Paulo, 1973, p. 186, s/ autor. Disponível em: <http://www.brasilcult.pro.br/cursos/sobrev02.htm>. Acesso 27 jun 2009.

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publicado às 20:25

Será que vinga?

por ornitorrincoquantico, em 04.06.09

 

Clique nas imagens para ver em tamanho maior.

 

Essa história em quadrinhos foi realizada ano passado em uma oficina de História em Quadrinhos realizada durante o Festival Contato na UFSCar. Fiz em parceria com uma moça, mas não encontrei o nome dela, quando encontrar atualizo aqui.

 

Foi uma experiência interessante, não foi nada muito profissional até porque o nosso tempo era curto, mas acho que o resultado ficou bacana.

 

Olha que curioso o que me aconteceu. Semana passada deixei todas minhas obrigações com meu TCC para me dedicar um pouco ao desenho. Há muito tempo que eu não desenhava nada, mas sentia muita falta. Então, fiz várias cartões postais, cada um para um amigo diferente e a maioria para aniversário. Grande parte já foi enviada (por e-mail, pq na verdade os cartões são "poesias visuais", se é que existe esse conceito...rzz) e alguns guardei p/ o aniversário de outros amigos q estão por vir ao longo do ano. São cartões bem simples, mas foi ótimo pra recuperar minha criatividade e ânimo pro TCC.

 

Enfim, enquanto fazia isso, encontrei essa história em quadrinhos da oficina, ainda sem colorizar. Desde o ano passado eu havia prometido que ia dar cor a ela mas sempre deixei pra lá. Um dia, vim pra sala de informática e estava sem internet. Pra não perder meu tempo, lembrei dessa história e peguei pra colorir.

 

Quando terminei, um rapaz que estava ao meu lado perguntou se eu fazia tirinhas também. Disse que sim, apesar de ter muitos anos que não produzo mais nada. Ele então me pediu para fazer algumas para um jornal que ele edita. Aceitei e agora estou planejando o que fazer.

 

É interessante como as coisas acontecem na nossa vida de forma tão natural, não é verdade? Espero agora conseguir produzir alguma coisa sem atrapalhar o andamento do meu TCC.

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publicado às 22:20

Andy Warhol - Parte 3

por ornitorrincoquantico, em 30.05.09

Agora vamos ler uma pintura muito conhecida do Warhol:

 

 

 

Marilyn

 

 

Este quadro se tornou o símbolo da Pop Arte e do trabalho de Warhol. Ilustra camisetas, propagandas, livros didáticos e uma infinidade de outros materiais. Se tornou o símbolo da massificação. Mas por que este quadro fascina tanto?

 

Vamos começar descrevendo. A imagem está dividida em 9 quadrados, em cada quadrado a mesma representação feminina só que com cores diferentes. Warhol utiliza a mesma técnica dos seus outros quadros, a serigrafia (consulte as partes 1 e 2 para maiores informações).

 

 

 

 

Primeiramente, quem é a mulher que serviu de molde para a chapa? É atriz de cinema Marilyn Monroe (nascida em 01 de Junho de 1926 e falecida em 05 de Agosto de 1962). Marilyn é considerada até hoje uma das mulheres mais lindas e sensuais do cinema. Seus filmes foram grandes sucessos e se tornou uma verdadeira diva do cinema. A exploração de sua vida pessoal infelizmente acabou se tornando maior que o reconhecimento do seu trabalho artístico.

 

 

 

Seus casos amorosos tiveram grande repercussão, principalmente seu envolvimento com o presidente americano John F. Kennedy. Passou-se a explorar cada vez mais sua imagem de sensual e sedutora. Se tornara quase um objeto sexual da mídia. Tudo isso contribuiu para que ela se tornasse cada vez mais deprimida e solitária, culminando com sua misteriosa morte aos 36 anos, que até hoje não foi bem explicada.

 

Voltemos ao quadro.

 

A representação da Marilyn é sempre a mesma, o que muda são as cores. Todos os quadrados possuem o mesmo tamanho e estão num alinhamento perfeito, com uma leve distância entre um quadrado e outro, formando assim corredores brancos entre as figuras. Lembra muito um jogo-da-velha.

 

Este quadro é um exemplo marcante do quanto as cores nos passam sensações e percepções diferentes. Em alguns quadros as cores são tão berrantes que ela acaba ficando assustadora. No primeiro quadro seu rosto está num vermelho berrante com um fundo magenta vivo e contornos azuis. Essa composição grita aos nossos olhos, é difícil olhar para ele por muito tempo. O segundo quadro tranqüiliza um pouco, por usar cores mais claras, mas o vermelho do pescoço e o cabelo exageradamente amarelo quebram essa tranqüilidade. No terceiro quadrado a composição é ainda mais berrante que do primeiro, a cor verde escura destoa do vermelho do contorno e a imagem também possui uma distorção, como se a foto estivesse desfocada.

 

Quarto quadro, uso de um azul mais claro, tons cinzentos e um rosa na boca e em alguns detalhes, quebrando o frio que se forma a composição com a união do azul e cinza. Este quadro mostra uma Marilyn mais deprimida, sem vida e triste. O quinto quadro é bem mais nítido que os anteriores, porém o marrom do cabelo e o bege da face faz com que Marilyn aparente um certo ar de apatia. Em conjunto com os contornos em azul escuro e o rosa do fundo, cria uma certa barreira entre nosso olhar e ela, fazendo que afastemos a vista daquele centro. Sexto quadro, o fundo branco rosáceo aparenta uma certa tranquilidade, porém o cabelo amarelo, a face em ciano e os lábios em vermelho mostram que essa tranquilidade é ilusória, pois o rosto acaba nos remetendo a um cadáver.

 

No sétimo quadro as misturas de cores deixam o rosto de Marilyn desfigurado, agora mal conseguimos perceber seus olhos, boca e cabelos. Esse efeito se dá com o uso do ciano no fundo e também de ciano mais claro nos contornos, boca e olhos, juntamente com uma cor creme sem vida em parte do cabelo. No oitavo, o fundo usa um ciano mais vivo que o usado no sétimo e um magenta na face, com contornos acinzentados e parte do cabelo de um azul claro empalidecido. Alguns contornos vermelhos nos dão a impressão de desfoque e toda essa composição é provocadora aos nossos olhos, não conseguimos permanecer por muito tempo nela. No nono e último quadro encontramos a representação mais nítida de todas e isto se deve ao uso do preto nos contornos, o que cria um volume melhor na representação. O fundo rosa combina com a face branca rosácea, e os olhos e bocas também combinam com o fundo. O amarelo do cabelo não é forte e dá uma certa naturalidade. Apesar disto, o preto muito forte do contorno entristece o rosa e o branco rosáceo da face, nos passando assim a ideia de uma mulher sem brilho e sem vida.

 

Com essa descrição percebemos o seguinte:

 

- Existe uma grande oposição entre o feio e o belo na pintura, Marilyn é uma mulher reconhecidamente bela, porém, na pintura, em nenhum momento esta beleza se manifesta;

- As imagens possuem aspectos negativos gerados pelo uso das cores, o que faz com que nosso olhar não permaneça por muito tempo em nenhuma delas, pois todas são pertubadoras;

- Tudo soa como artificial no quadro, nada é natural. O próprio sorriso da Marilyn parece forçado, sem alegria.

 

Com isso, podemos dizer que Warhol critica a maneira como a mídia explora a imagem de uma pessoa. Novamente, como no caso da Liz Taylor, a pessoa por trás da imagem não importa, o que importa é manipulá-la da forma que quiserem, sem se preocupar com mais nada. Ela se torna um produto, que pode ser construído e manipulado de várias formas, mesmo que sem sentido, para ser posta a venda para o grande público. O que importa é que você aceite essa manipulação como uma verdade. Não importa que a figura se torne um monstro e destrua com toda a vida daquela pessoa.

 

Para eles, Marilyn não é uma pessoa, é um produto.

 

Warhol procurou exemplificar essa crítica reproduzindo o que a mídia e o mundo industrializado faz: reproduzindo o seu trabalho e o manipulando de diversas maneiras, para depois os vender em sua Fábrica. Já que tudo tem que ser industrializado e comercializado, se o mais importante é o bem material, então porque não transformar sua arte em produto também?

 

Pois a grande crítica de Warhol é: será que estamos industrializando e massificando a Arte também?

 

 

Pense nisso...

 

 

Warhol faleceu em 1987. Uma de suas frases ficou célebre no mundo todo e se aplica perfeitamente bem aos dias atuais: “In the future everyone will be famous for fifteen minutes” (No futuro todos seremos famosos durante 15 minutos).

 

 

 

Espero que tenham gostado de ler essas pinturas e conhecer um pouco mais da vida de Andy Warhol. Em junho selecionarei outro artista e outras pinturas para analisarmos.

 

 

Até lá!

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Dica Cultural:


 

ARTE NA FRANÇA 1860-1960 - O REALISMO

 

Arte na França 1860 -1960: O Realismo

 



Apartir de 16 de maio até 28 de junho de 2009

MASP apresenta abrangente exposição do Ano da França no Brasil

 

MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

Av. Paulista, 1.578 - Cerqueira César - São Paulo – SP.
Horário: terça-feira a domingo e feriados, das 11h às 18h; quinta até 20h. A bilheteria fecha uma hora antes.
Ingresso: R$ 15 (inteira) e R$ 7 (estudante), gratuito às terças-feiras e diariamente para menores de 10 anos e maiores de 60 anos.

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publicado às 02:51

Andy Warhol - Parte 2

por ornitorrincoquantico, em 20.05.09


Vamos continuar a análise de Blue Liz as Cleopatra:

 


 

Essas reproduções que vemos de Liz Taylor como Cleópatra são iguais? À primeira vista diríamos que sim, afinal, como vimos anteriormente, foram feitas em cima de uma mesma matriz. É como se fosse um carimbo que foi molhado na tinta e impresso no papel diversas vezes.

 

Mas... parecem iguais. Não são! Vamos numerar as fotos para facilitar a análise:

 


 

Repare que algumas fotos são mais claras do que outras. É como se existisse uma luz posicionada ao lado esquerdo iluminando a composição. A foto 5 estaria mais próxima dessa luz enquanto a foto 15 é a que está mais distante.

 

Agora repare como essas fotos estão alinhadas na composição:

 


 

São 4 linhas, a primeira e segunda possuem 4 fotos cada e uma linha está alinhada com a outra. A terceira linha também possui 4 fotos, porém elas já não estão alinhadas com as linhas de cima, a foto quinze parece sobrepor parte da foto 11, no sentido da direita para a esquerda, formando um pequeno espaço vazio à direita.

 

Finalmente, a linha 4 visualizamos apenas 3 fotos e uma está sobrepondo a outra, formando um espaço ainda maior no lado direito. Repare na linha vermelha acima, ela mostra que se forma um vazio no lado inferior direito, resultado do afastamento das figuras das linhas 3 e 4.

 

As linhas 3 e 4 são as que estão mais distantes da luz, enquanto as linhas 1 e 2 estão mais próximas. Assim, da forma que as fotos são apresentadas podemos entender que essas fotos mais distantes da luz procuram se aproximar dela.

 

Agora vamos olhar com mais atenção a linha 2. O lado direito dessa linha é o que está mais iluminado na composição:

 


 

A foto 5 é a mais iluminada dessa linha, enquanto a foto 8 é a mais escura. Isso também se verifica nas outras linhas e também em cada foto. Observe:

 


 

Assim, verifica-se que nessa obra o lado direito é mais escuro enquanto o lado esquerdo é o mais claro.

 

Essa diferença de iluminação modifica o significado de cada foto. Observe novamente a linha 2:

 


 

Repare que a foto 5, por ser mais iluminada, deixa a sua composição mais limpa. Você quase não observa sombras e curvas do corpo de Liz. Seu corpo e beleza deixa de ser evidente. É como se ela se tornasse alguém sagrado, iluminado.

 

Já na foto 8 o corpo fica muito evidente pelas sombras. Repare como os seios se tornam mais volumosos, o olhar e a boca se tornam muito mais expressivos. E ela observa atentamente o lado direito, de onde recebe a luz.

 

Todas as fotos olham atentamente para o lado esquerdo, para a luz. É como se elas percebessem essa luz. Existe um desejo de alcançar essa iluminação.

 

Assim, identificamos a seguinte oposição:

 

CLARO x ESCURO

 

O lado escuro procura se aproximar do lado claro. Como vimos, isso fica marcado pelos seguintes aspectos:

 

- Linhas mais escuras se aproximam do lado mais claro sobrepondo-se sobre as outras fotos da linha e esvaziando o lado mais escuro;

 

- As fotos são mais claras do lado esquerdo, que é o mesmo lado de onde vem a luz que está fora da composição e o olhar do sujeito está em direção ao lado esquerdo.

 

O sujeito da foto (Liz Talor) percebe essa luz e deseja essa luz. Essa luz a tira da realidade (representada pelas sombras que dão volume ao seu corpo) e a transcende, a eleva para um outro plano (representado pela luz que limpa suas sombras).

 

Ela está em um plano negativo e deseja mudar para um plano positivo. Seu olhar está fixo nessa luz e quanto mais escura ela fica, mais ela deseja estar próxima dessa luz.

 

Cleópatra é uma das mulheres mais conhecidas da história da humanidade.

 

Elizabeth Taylor é conhecida como uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos.

 

Nós conhecemos esse lado histórico delas e suas lendas e histórias a cerca de suas vidas íntimas. Por serem muito famosas, sempre surgiram diversos boatos sobre elas. Suas vidas foram vendidas e manipuladas de diversas maneiras. A mulher que elas foram de verdade, suas vidas, nunca foram de grande importância. O importante sempre foi o mito que surgiu em torno delas.

 

A sociedade as transformou em um objeto industrial, elas foram manipuladas, copiadas e reproduzidas da forma que se quis com os objetivos mais variados. A essência delas acabou sendo perdida em nome de um mito.

 

Warhol procura mostrar isso nesse quadro. Liz, ao interpretar Cleópatra, acabou sintetizando todo esse efeito de manipulação que se faz delas. A imagem delas foi reduzida à uma matriz que pode copiá-la inúmeras vezes. Mas por mais que se copiem e as usem da forma como quiserem, existirá sempre uma essência das pessoas que elas foram e são. E essa essência tenta sair do papel, tenta encontrar uma “Luz”. A luz representa essa volta a sua essência, onde elas eram livres e podiam ser elas mesmas e não esse mito.

 

Esse é o principal tema das obras de Warhol, o desejo das pessoas em reencontrar sua individualidade e o quanto nós transformamos pessoas em objetos que podem ser manipulados da forma que queremos e para satisfazer nossas próprias vontades.

 

Então, o que achou desse quadro? Conseguiu encontrar outras relações e questionamentos expressos nele? Se encontrar, compartilhe conosco.

 

Na nossa próxima análise continuaremos a observar a obra de Warhol. Iremos analisar uma de suas obras mais conhecidas:

 

 

Marilyn

 

Até a próxima!

 

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Dica Cultural:


 

ARTE NA FRANÇA 1860-1960 - O REALISMO

 

Arte na França 1860 -1960: O Realismo

 


Apartir de 16 de maio até 28 de junho de 2009

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PS: se encontrar algum erro por favor me avise. Obrigado!

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publicado às 16:21

Andy Warhol - Parte 1

por ornitorrincoquantico, em 05.05.09

E começa aqui nossa aventura no mundo da arte através de leitura de textos produzidos por diversos artistas. Pela leitura de alguns textos selecionados iremos descobrir um pouco da vida deles e da riqueza escondida nos seus trabalhos.

 

E para começar...

 


Andy Warhol

 

Pequeno histórico sobre sua vida:

Andy Warhol
(Artista norte-americano)
6-8-1928, Pittsburgh, EUA
22-2-1987, Nova York, EUA

De acordo com o site Biografias, Andrew Warhol é o artista mais conhecido da pop art e um dos mais polifacetados desse movimento. Depois de estudar desenho, trabalhou como desenhista publicitário em Nova York. No final dos anos de 1950, já utilizava em suas obras motivos oriundos da publicidade, empregando tintas acrílicas.

 

E fez muito mais coisas. Mas isso deixaremos para depois. Primeiro vamos à primeira imagem que selecionei para análise.

 

 

Blue Liz as Cleopatra
1963
silkscreen ink and acrylic paint on canvas
82 x 65 in.
Courtesy The Daros Collection

Clique na imagem para visualizá-la melhor

 

Olhe com bastante atenção essa imagem. Demore o tempo que for necessário para tentar perceber o que está nela e o que grita aos seus olhos.

 

Vamos tentar descrever?

 

Pois bem, aparentemente vemos várias reproduções de uma mesma fotografia. E essa fotografia representa uma mulher.

 

Uma mulher qualquer? Não! Ela usa um cabelo característico de uma época. O cabelo dela serve então como guia para a gente determinar o tempo e o lugar representado. No caso, é uma mulher egípcia, pois até o título entrega essa informação. É uma representação da rainha egípcia Cleópatra. Mas existe uma outra informação no título, não é apenas uma representação qualquer da rainha Cleópatra, é a atriz Liz Taylor encarnando a rainha egípcia.

 

Vamos parar agora para fazer uma pequena pesquisa para tentar descobrir quem é a Cleópatra e quem é Liz Taylor. Vamos ver o que a Wikipedia nos diz:

 

Cleópatra VII Thea Filopator ([...] Janeiro de 70 a.C. ou Dezembro de 69 a.C. - 12 de Agosto? de 30 a.C.) foi a última rainha da dinastia de Ptolomeu, general que governou o Egito após a conquista daquele país pelo rei Alexandre III da Macedônia. Era filha de Ptolomeu XII e de Cleópatra V. O nome Cleópatra significa "glória do pai", Thea significa "deusa" e Filopator "amada por seu pai".

É uma das mulheres mais conhecidas da história da humanidade e um dos governantes mais famosos do Egito, tendo ficado conhecida somente como Cleópatra – ainda que tenham existido várias outras Cleópatras além dela e que a história quase não cita. Nunca foi a detentora única do poder em sua terra natal - de facto co-governou sempre com um homem ao seu lado: o seu pai, o seu irmão (com quem casaria mais tarde) e, depois, com o seu filho. Contudo, em todos estes casos, os seus companheiros eram apenas reis titularmente, mantendo ela a autoridade de facto.

 

Elizabeth "Liz" Rosemond Taylor (Londres, 27 de fevereiro de 1932) é uma atriz anglo-americana. Filha de pais estadunidenses, mudou-se para os Estados Unidos em 1939.

[...]

Liz, como é mais conhecida, é reverenciada como uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos; a marca registrada são os traços delicados e olhos de cor azul-violeta, emoldurados por sobrancelhas espessas de cor negra. Celebridade cercada por intenso glamour e diva eterna dos anos de ouro do cinema norte-americano, é uma compulsiva colecionadora de jóias [...].

 

E algumas informações importantes sobre o filme, de acordo com o site Adoro Cinema:

 

O diretor Joseph L. Mankiewicz (A Condessa Descalça) leva às telas a história da ascensão e declínio de Cleópatra, rainha do Egito. Com Elizabeth Taylor, Richard Burton, Rex Harrison e Martin Landau. Vencedor de 4 Oscars.

Cleópatra é o filme mais caro de todos os tempos. Na época de sua realização sua produção custou US$ 44 milhões. Se esta quantia fosse reajustada até em relação ao dólar em 1999, o filme custaria na verdade US$ 270 milhões.
É popularmente considerado um dos maiores fracassos comerciais de todos os tempos, apesar desta afirmação não ser verídica. Apesar de seu alto orçamento o filme conseguiu recuperar o dinheiro nele investido, vários anos após seu lançamento, sendo ainda uma das maiores bilheterias da década de 60.

Elizabeth Taylor foi o 1ª intérprete de Hollywood a receber US$ 1 milhão por um único filme, por sua participação em Cleópatra.

 

Pois bem, voltemos ao quadro de Warhol.

 

Mesmo que não soubéssemos o título da obra, já seria possível ao menos reconhecer que a mulher representada é Cleópatra, pois ela se assemelha com a imagem clássica que temos dela (e que você pode conferir acima nas informações sobre Cleópatra).

 

O que mais percebemos na imagem? As reproduções da Liz estão em preto num papel azul claro. Esse tipo de azul é conhecido nas artes gráficas como ciano. Com ciano, combinado com o magenta e o amarelo, é possível reproduzir todas as cores que conhecemos. É com essa combinação de cores, somado ao preto, é que se consegue a impressão de imagens em papel, tanto na indústria gráfica quanto na sua impressora.

E como Warhol pintou o quadro? Foi com a técnica que ele mais utilizava: a serigrafia.

 

Serigrafia ou silk-screen é um processo de impressão no qual a tinta é vazada – pela pressão de um rodo ou puxador – através de uma tela preparada. A tela, normalmente de seda, náilon ou poliéster, é esticada em um bastidor de madeira, alumínio ou aço. A "gravação" da tela se dá pelo processo de fotosensibilidade, onde a matriz preparada com uma emulsão fotosensível é colocada sobre um fotolito, sendo este conjunto matriz+fotolito colocados por sua vez sobre uma mesa de luz. Os pontos escuros do fotolito correspondem aos locais que ficarão vazados na tela, permitindo a passagem da tinta pela trama do tecido, e os pontos claros (onde a luz passará pelo fotolito atingindo a emulsão) são impermeabilizados pelo endurecimento da emulsão fotosensível que foi exposta a luz.

 

Você provavelmente deve saber o que é o Silk-screen, é aquele mesmo processo que usam para fazer uma imagem em camisetas.

 

Warhol gostava de usar essa técnica porque ela se aproximava do método industrial. Com uma mesma matriz, ele reproduzia uma mesma imagem várias vezes. Ele começou com esse estilo em 1961, usando imagens de produtos conhecidos e industrializados, como a coca-cola e a sopa Campbell's.

 

Em 1963 ele inaugurou um ateliê chamado The Factory (A fábrica). Lá, ele começou a fazer obras seriadas para venda e passou a usar como temas pessoas muito conhecidas e famosas no mundo todo. Muitas dessas pessoas eram artistas do cinema e TV e eram amigas dele, frequentando, juntamente com outras pessoas e artistas (em sua maioria pessoas consideradas desajustadas pela sociedade, por serem homossexuais, travestis, drogados, bêbados e fumantes, entre outros), A fábrica de Warhol com frequência.

 

E entre as várias telas que Warhol produziu em 1963, está Blue Liz as Cleopatra.

 

Esse foi nosso primeiro contato com o trabalho de Warhol. Na próxima semana darei continuidade a análise de Blue Liz as Cleopatra. Enquanto isso e levando em consideração o que foi levantado nessa análise até agora, volte ao quadro e tente ler o que está escrito. Existe alguma coisa sendo dita? As fotos de Liz foram feitas com a mesma matriz e deveriam ser iguais. Mas são iguais? Existe alguma relação entre o fato de Warhol iniciar seu estilo de pintura com produtos industrializados e a seguir mudar para pessoas públicas, como a Liz? Preste bastante atenção no que é representado na imagem, isso será importante para você conseguir fazer sua própria análise.

 

 

Olhe nos olhos de Liz.... Será que eles dizem alguma coisa pra você?

 

Até mais!

 

Referência:

O portal da História - Biografia: Andy Warhol. Disponível em: <http://www.arqnet.pt/portal/biografias/warhol.html>. Acesso em 03 mai 2009.

 

PS: Se você encontrar algum erro no meu texto, por favor me avise.

 

 

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publicado às 01:14

Vamos aprender a ler a Arte?

por ornitorrincoquantico, em 01.05.09

 

Depois que entrei na universidade descobri que era muito analfabeto.

Descobri que era um analfabeto artístico.

E que não estava só, praticamente todos nós somos.

As escolas, em particular as brasileiras, não dão tanto valor à área de Artes. Ela é a mais maltratada de todas, tanto que as próprias universidades que formam artistas e educadores artísticos formam péssimos profissionais. Até existe vontade de fazer o melhor pela área, mas um músico se forma sem conhecer nada de outras áreas da arte, como pintura, teatro, dança, cinema, etc., e estes também! Todos eles saem ótimos criadores, possuem toda a técnica de criação e são capazes de criar ótimas obras. Mas não sabem ler a arte. Não sabem ler músicas, pinturas, filmes, esculturas, teatro, dança, moda, design... E não sabendo ler, também não sabem ensinar a ler e na maioria das vezes nem percebem que possuem essa limitação.

Não quero generalizar, é claro que existem pessoas que corrigiram isso e dedicam sua vida a ensinar outros artistas a também aprender a ler Arte. Foi graças ao trabalho de Anamelia Bueno Buoro, em especial o seu livro “Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino da arte” que descobri o quanto eu ainda precisava aprender para aprender a ler imagens. Desde então minha visão artística mudou radicalmente.

Acostumamos a nos deter apenas em pequenos detalhes e não damos a devida atenção que uma obra de arte necessita. Com isso, criamos preconceitos, raiva, indiferença e julgamos a obra apenas como boa ou ruim. Ideias como “Pintura moderna é um lixo, não dá pra entender nada” ou “isso é tão idiota que até uma criança faz” acaba virando rotina no nosso julgamento artístico.

Eu odeio isso! Por isso venho tentando aprender um pouco mais para poder aproveitar melhor tudo o que os grandes artistas (e os pequenos também, oras) querem nos dizer, incluindo até o que eles não sabem o que querem dizer...

Mas não me contento apenas em querer aprender só para mim. Quero passar isso também aos meus amigos e às pessoas que estão dispostas a modificar a forma de ler textos artísticos, porque é maravilhoso poder compartilhar a beleza da arte com outras pessoas. É assim que a arte nos auxilia e nos modifica e é assim que alimentamos de verdade nosso espírito crítico.

Ainda estou aprendendo, estou no começo da minha jornada que provavelmente será eterna, mas já quero começar a encarar a Arte de frente e tentar descobrir os mistérios que ela esconde de forma tão engenhosa. Para isso, pretendo começar a realizar algumas análises de obras de conhecidos autores e tentar entender o que eles quiseram passar para nós com seu trabalho. Minha ferramenta de trabalho será a semiótica e a análise do discurso. Um absurdo para alguns teóricos da área da linguagem que consideram essas duas teorias tão diferentes. Mas as duas se emaranharam na minha formação de tal forma que seria incapaz de separá-las. Mas também escrevo para pessoas simples ou que se disponham a ser simples. Não quero complicar com teorias complexas, os verdadeiros protagonistas serão os artistas que me dispuser a analisar.

Também não será nada muito profundo e extenso. Aliás, nem confiem muito no que eu escrever, tenho certeza que devo errar muito. O que quero é apenas dar o pontapé inicial para que depois quem se interessar prossiga e invista de verdade na análise.

Se eu conseguirei frutos ou ao menos um leitor que se interesse não sei. Mas ao menos deixo algo que creio ser útil um dia para alguém.

 

massss.....

 


Por que é importante ser alfabetizado em Arte?

Porque a Arte está em todo lugar da nossa vida. Está na pintura, na música, na dança, nas esculturas, no cinema, nas fotografias, na arquitetura, na roupa que a gente veste, na geladeira da sua casa, no ladrilho do seu banheiro, na embalagem do seu leite condensado, no seu corpo e numa infinidade de outros lugares. Nunca percebeu? Pois repare... Se ela está tão presente, então porque a gente não aproveita e tenta a entender melhor? Mesmo que seja apenas para melhorar nossas escolhas matutinas de qual meia combinar com nossa calça e camisa...

 

Enfim, quem tiver interesse, venha! E ajude também sempre que tiver vontade.

 

Pois bem, para começar essa brincadeira eu escolhi Andy Warhol.

 

 

Pode parecer estranho começar com um pintor tão recente, com tantos outros grandes artistas do passado, mas eu gosto de ser diferente e prefiro começar de trás para frente, embora não seguirei nenhum caminho fixo.

Nas últimas férias assisti um documentário sobre a vida e o trabalho dele e, conjugando com o que venho estudando de análise de imagem, descobri coisas fantásticas.

Deixo uma pequena amostra do que virá nos próximos dias:

 


 

Tentarei publicar alguma coisa ao menos uma vez por semana. Ao longo das semanas tentaremos conhecer um pouco sobre a vida do autor escolhido, sempre centrando na análise de seus trabalhos. No fim, tentaremos encaixar o autor na linha do tempo da arte e o que ele representa para a História da Arte.

 

Espero que gostem, até mais!

 

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publicado às 22:15


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