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Baú de ideias malucas de Rubens Torres
Agora vamos ler uma pintura muito conhecida do Warhol:
Marilyn
Este quadro se tornou o símbolo da Pop Arte e do trabalho de Warhol. Ilustra camisetas, propagandas, livros didáticos e uma infinidade de outros materiais. Se tornou o símbolo da massificação. Mas por que este quadro fascina tanto? Vamos começar descrevendo. A imagem está dividida em 9 quadrados, em cada quadrado a mesma representação feminina só que com cores diferentes. Warhol utiliza a mesma técnica dos seus outros quadros, a serigrafia (consulte as partes 1 e 2 para maiores informações).
Primeiramente, quem é a mulher que serviu de molde para a chapa? É atriz de cinema Marilyn Monroe (nascida em 01 de Junho de 1926 e falecida em 05 de Agosto de 1962). Marilyn é considerada até hoje uma das mulheres mais lindas e sensuais do cinema. Seus filmes foram grandes sucessos e se tornou uma verdadeira diva do cinema. A exploração de sua vida pessoal infelizmente acabou se tornando maior que o reconhecimento do seu trabalho artístico.
Seus casos amorosos tiveram grande repercussão, principalmente seu envolvimento com o presidente americano John F. Kennedy. Passou-se a explorar cada vez mais sua imagem de sensual e sedutora. Se tornara quase um objeto sexual da mídia. Tudo isso contribuiu para que ela se tornasse cada vez mais deprimida e solitária, culminando com sua misteriosa morte aos 36 anos, que até hoje não foi bem explicada.
Voltemos ao quadro.
A representação da Marilyn é sempre a mesma, o que muda são as cores. Todos os quadrados possuem o mesmo tamanho e estão num alinhamento perfeito, com uma leve distância entre um quadrado e outro, formando assim corredores brancos entre as figuras. Lembra muito um jogo-da-velha.
Este quadro é um exemplo marcante do quanto as cores nos passam sensações e percepções diferentes. Em alguns quadros as cores são tão berrantes que ela acaba ficando assustadora. No primeiro quadro seu rosto está num vermelho berrante com um fundo magenta vivo e contornos azuis. Essa composição grita aos nossos olhos, é difícil olhar para ele por muito tempo. O segundo quadro tranqüiliza um pouco, por usar cores mais claras, mas o vermelho do pescoço e o cabelo exageradamente amarelo quebram essa tranqüilidade. No terceiro quadrado a composição é ainda mais berrante que do primeiro, a cor verde escura destoa do vermelho do contorno e a imagem também possui uma distorção, como se a foto estivesse desfocada.
Quarto quadro, uso de um azul mais claro, tons cinzentos e um rosa na boca e em alguns detalhes, quebrando o frio que se forma a composição com a união do azul e cinza. Este quadro mostra uma Marilyn mais deprimida, sem vida e triste. O quinto quadro é bem mais nítido que os anteriores, porém o marrom do cabelo e o bege da face faz com que Marilyn aparente um certo ar de apatia. Em conjunto com os contornos em azul escuro e o rosa do fundo, cria uma certa barreira entre nosso olhar e ela, fazendo que afastemos a vista daquele centro. Sexto quadro, o fundo branco rosáceo aparenta uma certa tranquilidade, porém o cabelo amarelo, a face em ciano e os lábios em vermelho mostram que essa tranquilidade é ilusória, pois o rosto acaba nos remetendo a um cadáver.
No sétimo quadro as misturas de cores deixam o rosto de Marilyn desfigurado, agora mal conseguimos perceber seus olhos, boca e cabelos. Esse efeito se dá com o uso do ciano no fundo e também de ciano mais claro nos contornos, boca e olhos, juntamente com uma cor creme sem vida em parte do cabelo. No oitavo, o fundo usa um ciano mais vivo que o usado no sétimo e um magenta na face, com contornos acinzentados e parte do cabelo de um azul claro empalidecido. Alguns contornos vermelhos nos dão a impressão de desfoque e toda essa composição é provocadora aos nossos olhos, não conseguimos permanecer por muito tempo nela. No nono e último quadro encontramos a representação mais nítida de todas e isto se deve ao uso do preto nos contornos, o que cria um volume melhor na representação. O fundo rosa combina com a face branca rosácea, e os olhos e bocas também combinam com o fundo. O amarelo do cabelo não é forte e dá uma certa naturalidade. Apesar disto, o preto muito forte do contorno entristece o rosa e o branco rosáceo da face, nos passando assim a ideia de uma mulher sem brilho e sem vida.
Com essa descrição percebemos o seguinte:
- Existe uma grande oposição entre o feio e o belo na pintura, Marilyn é uma mulher reconhecidamente bela, porém, na pintura, em nenhum momento esta beleza se manifesta;
- As imagens possuem aspectos negativos gerados pelo uso das cores, o que faz com que nosso olhar não permaneça por muito tempo em nenhuma delas, pois todas são pertubadoras;
- Tudo soa como artificial no quadro, nada é natural. O próprio sorriso da Marilyn parece forçado, sem alegria.
Com isso, podemos dizer que Warhol critica a maneira como a mídia explora a imagem de uma pessoa. Novamente, como no caso da Liz Taylor, a pessoa por trás da imagem não importa, o que importa é manipulá-la da forma que quiserem, sem se preocupar com mais nada. Ela se torna um produto, que pode ser construído e manipulado de várias formas, mesmo que sem sentido, para ser posta a venda para o grande público. O que importa é que você aceite essa manipulação como uma verdade. Não importa que a figura se torne um monstro e destrua com toda a vida daquela pessoa.
Para eles, Marilyn não é uma pessoa, é um produto.
Warhol procurou exemplificar essa crítica reproduzindo o que a mídia e o mundo industrializado faz: reproduzindo o seu trabalho e o manipulando de diversas maneiras, para depois os vender em sua Fábrica. Já que tudo tem que ser industrializado e comercializado, se o mais importante é o bem material, então porque não transformar sua arte em produto também?
Pois a grande crítica de Warhol é: será que estamos industrializando e massificando a Arte também?
Pense nisso...
Warhol faleceu em 1987. Uma de suas frases ficou célebre no mundo todo e se aplica perfeitamente bem aos dias atuais: “In the future everyone will be famous for fifteen minutes” (No futuro todos seremos famosos durante 15 minutos).
Espero que tenham gostado de ler essas pinturas e conhecer um pouco mais da vida de Andy Warhol. Em junho selecionarei outro artista e outras pinturas para analisarmos.
Até lá!
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