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Andy Warhol - Parte 2

por ornitorrincoquantico, em 20.05.09


Vamos continuar a análise de Blue Liz as Cleopatra:

 


 

Essas reproduções que vemos de Liz Taylor como Cleópatra são iguais? À primeira vista diríamos que sim, afinal, como vimos anteriormente, foram feitas em cima de uma mesma matriz. É como se fosse um carimbo que foi molhado na tinta e impresso no papel diversas vezes.

 

Mas... parecem iguais. Não são! Vamos numerar as fotos para facilitar a análise:

 


 

Repare que algumas fotos são mais claras do que outras. É como se existisse uma luz posicionada ao lado esquerdo iluminando a composição. A foto 5 estaria mais próxima dessa luz enquanto a foto 15 é a que está mais distante.

 

Agora repare como essas fotos estão alinhadas na composição:

 


 

São 4 linhas, a primeira e segunda possuem 4 fotos cada e uma linha está alinhada com a outra. A terceira linha também possui 4 fotos, porém elas já não estão alinhadas com as linhas de cima, a foto quinze parece sobrepor parte da foto 11, no sentido da direita para a esquerda, formando um pequeno espaço vazio à direita.

 

Finalmente, a linha 4 visualizamos apenas 3 fotos e uma está sobrepondo a outra, formando um espaço ainda maior no lado direito. Repare na linha vermelha acima, ela mostra que se forma um vazio no lado inferior direito, resultado do afastamento das figuras das linhas 3 e 4.

 

As linhas 3 e 4 são as que estão mais distantes da luz, enquanto as linhas 1 e 2 estão mais próximas. Assim, da forma que as fotos são apresentadas podemos entender que essas fotos mais distantes da luz procuram se aproximar dela.

 

Agora vamos olhar com mais atenção a linha 2. O lado direito dessa linha é o que está mais iluminado na composição:

 


 

A foto 5 é a mais iluminada dessa linha, enquanto a foto 8 é a mais escura. Isso também se verifica nas outras linhas e também em cada foto. Observe:

 


 

Assim, verifica-se que nessa obra o lado direito é mais escuro enquanto o lado esquerdo é o mais claro.

 

Essa diferença de iluminação modifica o significado de cada foto. Observe novamente a linha 2:

 


 

Repare que a foto 5, por ser mais iluminada, deixa a sua composição mais limpa. Você quase não observa sombras e curvas do corpo de Liz. Seu corpo e beleza deixa de ser evidente. É como se ela se tornasse alguém sagrado, iluminado.

 

Já na foto 8 o corpo fica muito evidente pelas sombras. Repare como os seios se tornam mais volumosos, o olhar e a boca se tornam muito mais expressivos. E ela observa atentamente o lado direito, de onde recebe a luz.

 

Todas as fotos olham atentamente para o lado esquerdo, para a luz. É como se elas percebessem essa luz. Existe um desejo de alcançar essa iluminação.

 

Assim, identificamos a seguinte oposição:

 

CLARO x ESCURO

 

O lado escuro procura se aproximar do lado claro. Como vimos, isso fica marcado pelos seguintes aspectos:

 

- Linhas mais escuras se aproximam do lado mais claro sobrepondo-se sobre as outras fotos da linha e esvaziando o lado mais escuro;

 

- As fotos são mais claras do lado esquerdo, que é o mesmo lado de onde vem a luz que está fora da composição e o olhar do sujeito está em direção ao lado esquerdo.

 

O sujeito da foto (Liz Talor) percebe essa luz e deseja essa luz. Essa luz a tira da realidade (representada pelas sombras que dão volume ao seu corpo) e a transcende, a eleva para um outro plano (representado pela luz que limpa suas sombras).

 

Ela está em um plano negativo e deseja mudar para um plano positivo. Seu olhar está fixo nessa luz e quanto mais escura ela fica, mais ela deseja estar próxima dessa luz.

 

Cleópatra é uma das mulheres mais conhecidas da história da humanidade.

 

Elizabeth Taylor é conhecida como uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos.

 

Nós conhecemos esse lado histórico delas e suas lendas e histórias a cerca de suas vidas íntimas. Por serem muito famosas, sempre surgiram diversos boatos sobre elas. Suas vidas foram vendidas e manipuladas de diversas maneiras. A mulher que elas foram de verdade, suas vidas, nunca foram de grande importância. O importante sempre foi o mito que surgiu em torno delas.

 

A sociedade as transformou em um objeto industrial, elas foram manipuladas, copiadas e reproduzidas da forma que se quis com os objetivos mais variados. A essência delas acabou sendo perdida em nome de um mito.

 

Warhol procura mostrar isso nesse quadro. Liz, ao interpretar Cleópatra, acabou sintetizando todo esse efeito de manipulação que se faz delas. A imagem delas foi reduzida à uma matriz que pode copiá-la inúmeras vezes. Mas por mais que se copiem e as usem da forma como quiserem, existirá sempre uma essência das pessoas que elas foram e são. E essa essência tenta sair do papel, tenta encontrar uma “Luz”. A luz representa essa volta a sua essência, onde elas eram livres e podiam ser elas mesmas e não esse mito.

 

Esse é o principal tema das obras de Warhol, o desejo das pessoas em reencontrar sua individualidade e o quanto nós transformamos pessoas em objetos que podem ser manipulados da forma que queremos e para satisfazer nossas próprias vontades.

 

Então, o que achou desse quadro? Conseguiu encontrar outras relações e questionamentos expressos nele? Se encontrar, compartilhe conosco.

 

Na nossa próxima análise continuaremos a observar a obra de Warhol. Iremos analisar uma de suas obras mais conhecidas:

 

 

Marilyn

 

Até a próxima!

 

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Dica Cultural:


 

ARTE NA FRANÇA 1860-1960 - O REALISMO

 

Arte na França 1860 -1960: O Realismo

 


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MASP apresenta abrangente exposição do Ano da França no Brasil

 

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PS: se encontrar algum erro por favor me avise. Obrigado!

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publicado às 16:21



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