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Tempo...

por ornitorrincoquantico, em 15.11.09

 

O que é o tempo?

 

Você já parou para pensar nisso? Intuitivamente sabemos o que é o tempo, é a coisa que marca o nosso relógio e que nos leva sempre “para frente”. Dividimos nossa vida em passado (o que já foi), presente (onde estamos) e futuro (o que virá). A tradição diz que o que já foi, já foi e não volta mais, e o que virá ainda não existe, o futuro seria um caderno em branco que vai sendo escrito pela caneta do presente.

 

Esse é um dos assuntos que mais converso com meus amigos de todos os lugares e queria falar um pouco por aqui também.

 

Muitos pensadores e filósofos se debruçaram nessa questão do tempo, mas ninguém foi mais radical que o físico Albert Einstein. Ele provou que o tempo não é algo fixo, seria na verdade uma nova dimensão, além das que conhecemos (largura, altura, comprimento). Seu conceito de tempo é importante em sua teoria da relatividade e graças a ela muitas coisas que hoje existem no nosso mundo não existiriam.

 

Mas o que quer dizer isso? O tempo, para Einstein, não é algo fixo, ele é relativo e relacionado com a velocidade. Vou tentar resumir da forma mais compreensível possível (os entendidos do assunto me perdoem se usar algum termo errado, não sou da área e tudo o que sei sobre o assunto tenho aprendido de revistas científicas ao longo de muitos anos).

Vou usar o exemplo clássico dos irmãos gêmeos: um irmão jovem entra em uma nave que viaja à velocidade da luz e dá uma voltinha rápida de poucos segundos, deixando seu irmão gêmeo o esperando na Terra. Quando o rapaz volta da viagem encontra seu irmão gêmeos já idoso. Pior: passaram-se muitos anos na Terra, o mundo mudou, muita gente já morreu e ele continua igual quando viajou, ainda jovem.

 

Nada é mais rápido do que a luz e ela é tão rápida que ela consegue fugir das amarras do tempo, por isso se algo ou alguém conseguisse viajar numa velocidade próxima da luz modificaria completamente sua noção de tempo.

 

Na verdade, tudo o que se move viaja no tempo, mas é um deslocamento tão mínimo que seria impossível perceber. Mas se não soubéssemos disso, não conseguiríamos manter satélites espaciais na órbita da Terra funcionando. De tempos em tempos é preciso dar uma atrasadinha de micromilésimos de segundo em seus relógios para que eles mantenham seu caminho e não saiam de rota.

 

O tempo, como o entendemos e aprendemos a conviver desde pequenos, seria, então, uma ilusão?

 

Muita gente tem se perguntado isso e a ciência e filosofia tentam responder. O que se entende é que o nosso universo seria como um DVD. Imagine que o universo fosse o DVD do filme Titanic. Você o pega e olha de fora e vê um círculo, onde um dos lados é prateado e está gravado o filme. Você conhece a história do Titanic e sabe que todo o filme está gravado ali, só não consegue vê-lo assim, é preciso colocá-lo num leitor de DVD que vai jogar um canhão de laser sobre e ele e isso permitirá a visualsação do filme em um monitor. Nesse monitor você vê a história acontecendo e o que vai passando vai ficando para trás. Só que você sabe que o que já passou continua escrito naquele DVD, não é apagado, inclusive você pode voltar e rever o que quiser.

 

O universo se comportaria da mesma maneira. É algo onde tudo está escrito, desde o seu começo até o seu final, e um “canhão de laser” que “lê” o que se entende por presente. O que ninguém sabe é o que é esse canhão de laser (ou seja, o que é o presente) e onde está o controle remoto???

 

Conseguiu perceber o quanto isso muda completamente nosso modo de encarar o mundo e a vida? Não? Pois pense, se tudo já está escrito no universo, desde o começo até o fim, nossa vida já está pronta, não existe essa história de caderno em branco a ser preenchido. Mas e o livre-arbítrio, onde fica? Pois é, ele ainda existe porque somos donos de nossas decisões, somos nós quem escolhemos. Mas só aqui, de dentro do universo é que é assim, pra quem observa “de fora” nós já decidimos faz tempo… desde o dia em que o mundo foi criado. Ele já nasceu morrendo. E nós também…

 

Se você leu até aqui e nunca tinha ouvido falar de nada disso deve não estar entendendo nada e completamente confuso. Eu mesmo custei a entender essas loucuras todas. E claro, são teorias, não existe nada certo na ciência, tudo pode ser mudado.

 

Mas eu gosto de discutir isso porque gera um monte de reflexões em nós. Veja só, se fosse possível observar o universo do lado “de fora”, nós poderíamos ver qualquer momento da história da humanidade, porque tudo está escrito lá. Sabe aquele dia em que você se divertiu pra valer em um parque com sua família na infância? E o dia em que você deu um beijo apaixonado em uma pessoa especial? Eles não acabaram, em algum lugar do universo ele permanecem iguais, inalterados. Legal, não? Mas tem seu lado ruim também… sabe aquele fora terrível que você levou? Aquele erro que você cometeu no serviço e levou uma bronca do seu chefe? Também continua lá, em algum lugar do universo. E o seu dia de amanhã também está prontinho, o que você vai decidir comer na janta amanhã já foi decidido por você e você nem sabe agora. E sinto lhe informar, em algum lugar do universo seu velório está acontecendo. E a morte de Tancredo, Jucelino, sua bisavó, seu tataravô, Napoleão, Newton… todo mundo…

 

Eu sei, tudo isso é muito louco e é apenas uma suposição, tendo como base o que a física moderna descobriu. Dá medo. Acho que por isso poucas pessoas discutem isso por aí. Dificilmente você vai encontrar alguém debatendo essas teorias e tentando entendê-las.

Acho que o principal motivo de se fugir desse assunto sobre o que é o tempo é que poucas religiões a incluíram em seus fundamentos. Praticamente em todas as religiões vivemos o presente, deixando o passado para trás e atravéz de nossas escolhas seguimos rumo ao futuro. Essa coisa de que tudo já está pronto soa como uma heresia maior do que o que Darwin propôs com sua teoria da evolução. Mas eu acho que isso é negativo, deveríamos sim pensar no assunto e ao menos considerá-lo um pouco.

 

Afinal, se for verdade, nossa responsabilidade em nossos atos é maior ainda, pois tudo fica registrado eternamente. Nós ainda não conseguimos voltar ao passado ou ir ao futuro, mas e se for possível um dia? Embora não possamos viajar no tempo na prática, hipoteticamente viagens no tempo são possíveis, principalmente para o futuro, mas nem vou entrar nesse assunto porque é longo e complicado.

 

Enfim, será que o tempo é realmente uma ilusão? Uma religião que conheço e que leva o tempo em consideração é o hinduísmo, embora nunca me aprofundei para entender como eles entendem o tempo. Nas religiões que acreditam em reencarnação cada vida seria uma etapa na preparação do espírito, mas também o ponto de vista é do tempo tal qual o conhecemos, para frente. Não imagino como essas religiões encarariam o fato do tempo ser relativo (pois no universo, um mesmo espírito estaria deslocado no espaço em tempos diferentes). Sei que no espiritismo um mesmo espírito não pode estar em dois corpos ao mesmo tempo. Mas um espírito continua preso ao tempo após desencarnar ou não? É uma dúvida interessante e que pode gerar reflexões importantes para quem é espírita.

 

E católicos e evangélicos, que acreditam em apenas uma vida e que ao morrer estaríamos destinados a um lugar conhecido como céu ou inferno, como encarariam o fato de tudo estar pronto no universo, e que o momento em que chegamos ao céu seria o mesmo que nossos pais, avós, bisvós…? Seria o juizo final ao mesmo tempo para todos ou a ilusão do tempo ainda persiste (ou se faz acreditar que existe)? Veja que nessa última pergunta usei as palavras “ao mesmo tempo” por não conseguir outras que melhor descrevessem o que quiz dizer. E é assim porque eu e todos nós estamos presos ao tempo e não conseguimos imaginar um mundo atemporal. Como saber algo que não conhecemos?

 

A única coisa que não obedece ao tempo é nosso pensamento e nossos sonhos. Já percebeu que não existe tempo enquanto sonhamos? Em 10 minutos de cochilo é possível realizar dezenas de coisas em um sonho que seria impossível fazer no nosso dia-a-dia em 10 minutos. Claro que isso é subjetivo, assim como a ideia que os dias de hoje são mais rápidos do que antigamente.

 

Uma ida de 30 minutos ao dentista parece ser mais longa que 30 minutos numa festa. Mesmo não acreditando no que Eistein propôs, nós percebemos que o tempo da nossa imaginação é variável de acordo com a situação que vivemos. E que as semanas estão passando cada vez mais rápido. Um dos motivos é que facilitamos nossas tarefas com a tecnologia, porém, ao invés de aproveitarmos melhor o tempo, acabamos fazendo mais coisas e com isso fica a impressão de que o tempo está mais rápido.

 

E tem físico que defende a ideia de que o universo está se expandindo em uma velocidade maior e isso modificaria a nossa noção do tempo.

 

A verdade? Provavelmente nunca encontraremos com certeza, ao menos não nesse nosso mundo “temporal”.

 

Mas ainda acho que um dia o homem vai perceber que o que Cristo disse na cruz ao bom ladrão não foi apenas para ele, mas para todos nós.

 

“Ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23:43).

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publicado às 02:51


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