Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Baú de ideias malucas de Rubens Torres
Quero falar com você que me lê no anonimato.
Que me vê passando pela timeline e só observa.
Nenhum like, nenhum share, nenhum comment...
Mas sempre olha
Lê
Observa
Sente
Poderia ocultar, mas não oculta
Poderia bloquear, mas não bloqueia
Poderia nem ler, mas lê
Vê
Ri
Chora
Pensa
Xinga
Questiona
Queria ser assim também, mas não consigo
Sou o seu oposto
Vários likes, vários shares, vários comments...
Se sou provocado, atiro-me
Se sou instigado, mergulho
Se sou desconstruído, rendo-me
É por você e com você que estou aqui agora
Você não é oculto
Revela-se em seu silêncio
Revela-se na trama de algoritmos frios
Revela-se em minh'alma
Quero falar com você, e apenas você
Os outros são importantes, sim
Mas hoje o palco é seu
A tela é sua
O papel é todo seu...
Você também faz parte de minha vida
Mesmo que nunca tenha lhe dito nada
Nem ao menos tenha lhe visto
E se vi, nem esperei, nem falei, nem existi
Saiba que tu também és especial
Tu com tuas limitações, eu com as minhas
Quero falar com você
Talvez seja o único momento nosso
E por isso dedico essas poucas palavras a você
E a nossa amizade que nem sei se pode ser categorizada como tal
Vira e mexe me pego chamando-te de meu amigo
Mas somos amigos?
Tão pouco colegas...
O que somos?
Somos poeira
Pó
Nada...
Trema, sei que estás atrás das cortinas
Tal como alma penada que vaga
Sei de sua existência
E tu da minha
Vamos rir juntos
Somos bobos
Somos tolos
Amo-te também
Não desse amor passageiro que tanto sucesso faz na boca dos asnos
Amo-te de uma forma especial
Tu és único
É ausência que se faz presença
Teu rosto está ali ao lado
Em meio aos outros que são presença
E nesse sublime instante
Em que dedico meu tempo a tentar tocar teu coração
E você dedica teu tempo a ler essas linhas pobres e desniveladas
Sabe-se lá Deus porque
Digo-te
Amo-te
O amor dos anônimos
Que não são anônimos
Que não são amigos
Que não são coisa alguma
Só são
É um amor sublime
Que não pede troca
Embora sempre haja alguma troca
Que não pede devoção
Embora somos de certa forma devotos um do outro
Que não exige
Agora sem embora, porque não se exige mesmo
É feito essencialmente de carinho, respeito e admiração
Não peço-te revelação
Não sou ninguém
Sou lento e pobre
Sinto-me ainda tão imperfeito
Incompleto
Em construção
Ao contrário de você
Que mesmo estando no mesmo barco
Já avançou mais do que eu
Não peço-te nada
Não sou nada
Sou vazio e oco
Sou uma anta e um asno
Jumento
Um burro
Ao contrário de você
Que mesmo estando na mesma reserva ecológica
Já avançou mais do que eu
Escrevo-te, pois só você chega até aqui
Só você me compreende
Só você é razão
E se não há like, não há share, não há comment
Há algo mais profundo
Inimaginável
Inominável
Há o que nos une
Há o que nos dá forma
Há o que nos liga
Há o que permitiu ao destino que de um lado houvesse adição
E do outro aceitação
E hoje somos
Amigos
Amigos?
Somos, apenas
E é para você, por você e com você
Que estas singelas palavras são dirigidas
Porque era chegada a hora de me dirigir a você
E desnudar o anonimato
Para que você saiba
Que estou sempre aqui também
E que sua vida me é cara
Você não estará nos likes abaixo
nem nos comments
muito menos em shares
E quem estiver já é macaco velho do meu terreiro
Já são meus putos
Meus irmãos
Minhas joias
Mas você está ao lado
No meio das bolinhas verdes
Olhando-me vez ou outra ao longo do dia
Julgando-me
Analisando-me
Ou não fazendo nada
Só vê passar
Mas é tão especial quanto
Quando quiseres, estou aqui
Abra uma janela
Envie um cachimbo
E diga
Isto não é um cachimbo
Porque se for para sair das sombras
Das cortinas
Do anonimato
Para dizer
Obviedades
Nem saia
Tu és muito mais
E talvez nem saiba
Pois eu lhe digo
Tu és grande
Tu és um belo cão de guarda
Uma bela garça
Um gato sábio
Um sabiá talentoso
Uma capivara culta
Um universo esplendoroso e mágico
E se chegar o dia do nosso encontro
O dia da dissipação das sombras
Da mudança de estado
Seja por qual janela for
Por qual porta, calçada
Real ou virtual
Se esse dia chegar
E tu não vier só
Vier com Francisco, Luzia
Rosa, Lispector
Pessoa, Drummond
Shakespeare, Pirandello
Kandinski, Warhol
Mozart, Herrmann
Hitchcock, Godard
Garbo, Davis
Christie, Rey
Clara, Maysa
Abelha, Chico
Madalena, Tomé
E qualquer outro da ladainha
Aliás
Se vier conhecendo a ladainha
Convocando-me à devoção
Saiba que nessa hora
Cairei aos teus pés
E terei a certeza que meu tempo não foi em vão
Minhas palavras não foram ao vento
Você mereceu tudo e ainda merece mais
Ao meu anônimo querido
Obrigado por tudo!
Lino Ribeiro
O Ornitorrinco Quântico
Sábado
16 de Maio
2015
Anno Domini Nostri Iesu Christi
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.